Wednesday, August 20, 2014

el tiempo

Para t.s.

o vento golpeia a janela, como naquela canção que não me sai da cabeça.  O dia se encurta, se alonga, se exprime nos vãos do tempo. o tempo não existe, ele me disse. mas aqui, nessa cidade, me apaixono por uma esquina de prédios antigos com um letreiro gigante que anuncia em concreto EL TIEMPO. el tiempo, el tiempo de cimento se faz de vento e golpeia a janela, me sopra urgência,  compromisso, propósito e um bocado mais de palavras que já desconheço o significado. SOU JOVEM, lhe respondo. mas há alguns dias atrás me caiu nas costas um ano a mais. um ano a mais, um ano a menos. aqui, nesse lugar, cumpro os anos como uma sentença.  e trato de sair da violência dessas palavras pra perder-me no meu bom e velho português que me diz calma, calma, foi só um aniversário.  uma festa, uma celebração.
O tempo não existe, ele me disse. E como não percebíamos sua presença,  de vingança nos engoliu em uma bocanhada só.