Tuesday, September 24, 2013

Maquinário

Olho de milhões de olhos. Todas as direções possíveis. Luz frigorífica piscando alternadamente, corpos apressados, imperceptíveis a olho só. Ritmo contínuo, síncope da velocidade e do bater das asas minúsculas, frágeis, recomeçando segundo a segundo o peso do mundo. Desajuste de sensações, buraco do tempo. O grande movimento mecânico de lata pulsa lá fora ritmando ou ritmando-se pela pequenez cardíaca de pele. Esse barulho todo, esse que guia, vem de fora ou de dentro? Tenho vontade de dizer que aquele bater desenfreado ainda vai lhe afogar o vôo. E ainda que pudesse, ainda que pudesse dizê-lo, ela me fitaria de volta, com seus olhos em pedaços e respiração ofegante e continuaria seu movimento inevitável vital. Aqui a vida é crua. Fibrosa. Intragável. Mas temos fome.
Ela vira uma esquina de ventos e é
cirurgicamente
esmagada.
Rogo por nós.