Tuesday, March 26, 2013

passou em frente ao banco. na esquina. não haveria por que haver banco ali, já era em frente a um bar. ficava aquele banco de praça, no começo da rua, na esquina, cruzamento com mais três ruas diferentes.
a noite vazia no banco vazio. Só, somente só, com o bando de rabiscos multicoloridos na parede atrás.
poderia ter o mundo nas mãos quando sentava ali, naquele cruzamento de caminhos, mundos, memórias. lembrava bem das últimas vezes, fitando o banco e a solidão das gentes. mas sempre parece que a solidão de hoje é mais vazia que a de ontem.
por obra do acaso, sentaram ali, os dois, depois de muito tempo sem se verem, e deram um abraço. conversas triviais pra contrabalancear o abraço apertado, é claro, não é fácil assim ser íntimo à distância. olhavam para a frente, como no restaurante, há anos atrás, quando a falta de jeito não permitia muito fitar o outro. o acaso sempre brinca com a gente. largando e tirando pessoas assim dos nossos cruzamentos, sem mais, assim, num dia qualquer, daí joga essa mesma pessoa em outro lugar, que nem cabe, ou tira de onde mais deveria estar. mas agora, sentados os dois, lado a lado, com aquele vazio vazio imenso no meio, olhavam pra frente pra não terem de admitir que aquele beco, na esquina, no começo da rua, era sim um cruzamento de mundos e ventos e idéias e amores, mas não mais para os dois.
é o beco da saudade.

Wednesday, March 20, 2013

pequenas epifanias

sentei na diagonal do moço-quase-simpático que almoçava na mesa daquele restaurante. aquele barato, meio sujo, mas com coisas vegetarianas e margaridas de mentira nas mesas. estava lotado, não tive escolha a não ser me convidar a sentar com ele. comemos compulsivamente, arreios à frente, sem lateralizar o olhar. pra não correr riscos, olhos fixos em lugar algum. cuidado meticuloso com a comida, que às vezes escapa pra fora do prato, ou da boca ou ainda aqueles pedaços que ficam presos nos dentes. Comer é tão íntimo. Vinte minutos de humanidade exposta. Frágeis, vulneráveis, com medo. Acabou de comer rapidamente, levantou-se abrupta e violentamente, ia saindo num fluxo desgovernado quando parou, virou-se e se despediu com um sorriso.

Monday, March 18, 2013

queria
o ódio
transmutado
em nada:
a sentir
a dizer
a viver.
nada
por hora
e daqui
há pouco
já não houve.
Pra ver
se na apatia
do dia
já não
haveria
nada
pra crer.

Friday, March 15, 2013

contornos nos olhos
cabelos, moldura
sorriso largo
olhos pequenos.
contornos, cabelos
olhos, moldura
sorriso pequeno
olhos largos.
olhos
cabelos
sorriso
olhos
pequenos
largos contornos, molduras.
olhos, contornos
vícios
cabelos e o perfume.
sorriso. largo, largo..
molduras dos dias
sem contorno.
cabelos pela cama
olhos nos contornos
molduras do meu sorriso.
vícios pequenos
olha nos olhos
sorriso, diga
pralém das molduras
e contornos
e esquinas
procurando
fios
dos seus cabelos.

vigília.

eu respiro
pralém de você
passeio poressa vida vivida
apesar de você
quase me perco no sono
dessa tarde morna
vagando pelo sonho
e o fato
ainda assim


(pedaço de papel achado de não-sei-quando)