Tuesday, January 30, 2007

No dia de hoje, às quatorze-e-trinta-e-um-do-dia-trinta-de-janeiro-de-dois-mil-e-sete, declaro oficialmente, conforme as responsabilidades a mim delegadas por vós, adorados leitores imaginários deste confessionário de personagens clichês virtual, registrado na 37ª Vara da Infância e Juventude Perturbadas, com três bêbados anônimos como testemunhas, menção honrosa a Dalai Lama, com o registro histórico para a humanidade feito numa Super 8 azul turquesa, com o patrocínio da Unilever e o apoio cultural da cidade de Santa Rita do Passa Quatro, na zeladoria do Seu Zé, no edifício localizado na Alameda Lorena1304 - Conjunto 413 cep 01424-001, nas circustâncias de falta de trabalho a fazer e excesso de ócio, com a presença do Coral das Meninas Órfãs da Eslováquia, regido pelo Maestro Aleksander Arnoskyvatch, formado pela Universidade Panteísta de Dum-Dum do Sul, afiançado pela cristã adúltera que se encontra no banco da praça lendo compulsivamente "Brida" e portanto, por tais motivos de força maior, não pôde comparecer; com a influência adquirida inconscientemente dos livros em braile e dos filmes mudos pós-sonoros, sem remorso da casa queimada com a lasanha no microondas após a tentativa de se fazer diamante do carvão, apostando no cavalo Bertolucci que está invicto na corrida do Jóquei Clube; pedindo por obséquio pra alguém ligar a porra do ar condicionado, declaro, senhoras e senhores, me declaro:

culpada!

psicopondríaca

A terapeuta disse a ela que não estava louca. Somente atravessava uma crise existencial.
Bah! Tem coisa mais insana do que se deixar levar por essas baboseiras sartrianas?

Essa menina deve ser pirada na batatinha por gostar de apagar os cigarros no café e por ser viciada nesses joguinhos de juntar bolinhas coloridas.! Tão clichê, tão natural. Ser natural é entregar os pontos pra mãe-natureza, outra doida desvairada que, mesmo com seus pontos na mão, vai perder a porcaria de jogo. Azar no jogo, sorte no amor, não é? É, pois é, ela sabe bem disso, afinal, todos amam a natureza! Todos plantam feijõezinhos no danoninho todo dia, pra não deixar os pobres [árvores de feijõezinhos ou de danoninho?] entrarem em extinção!

Plante um livro, escreva um filho, e vá parir uma árvore. Cuide do mundo pros seus filhotes que irão se meter numa terapia também, depois de serem cérebro-lavados com noções de beleza e etiqueta.


sementes de abóbora

Estranha sensação de estar crescendo.
Ver nas páginas que outrora te sussurravam segredos sobre as construções alheias, a própria construção, o próprio mistério desvendado.
É como ver aquele filme de 1999 em 99. Era tudo tão 90´s, tão próximo, tão palpável e hoje, menos de dez anos depois, é somente um bloco de legos multicoloridos que se enxerga claramente o lugar das peças. Antes uma cidade, hoje um brinquedo.
Acontece com os diálogos também. Torna-se claro que os diálogos não dialogam por si só, mas sim, mediados por atuações e fincados em experiências do passado, escritas num roteiro.. Raras vezes em tempo real, naqueles insights que se divide com o outro no momento em que surgem. Quase sempre monologáveis, por vezes compartilháveis e raramente, telepáticos.

[buscando os telepáticos]

Amores de carência que transbordam além das margens do "preciso", "quero" e "quero precisar".
Amizades de refúgio, de [pseudo-auto]controle, de posse, de fruir a imagem em sombras. São somente silhuetas...

Preciso de closes no cinema.

Tuesday, January 23, 2007

fazendo jus ao título.!

muito clichê.
muito chato!

Thursday, January 18, 2007

contando o troco

Acordei com aquele sorriso nos lábios que todos diriam sem titubear: Está feliz.
Fiz café, ouvi música, toquei violão, dancei pela casa, descasquei um kiwi.
Peguei um ônibus, contei o troco do cinema de ontem, paguei, sentei, ri.
Desci a Lorena fumando um cigarro, embora tossisse e espirrasse. Gripe. Entre lenços de papel e fumaça pensei que talvez fosse melhor não ter ido trabalhar de chinelo, afinal, o dia está nublado com um frio eminente. Me detive nesta questão por alguns segundos - essas bobagens triviais que ocupam a mente criando possibilidades de esperteza maior.
Esperteza maior foi ter acordado com aquela expressão, certa de que talvez aquele segundo fosse somente a primeira das quadras da ladeira quase intransponível da Augusta, mas a mesma ladeira que subo todos os dias.
DIAS. Faço deles o melhor que posso, o melhor que quero fazer, reajustando uma mente intrínseca ao mundo a uma calma interior, a um desapego das angústias de rotina. Transformo-as em piadas de mim para mim mesma embrulhadas num celofane rosa; respiro, subo mais uma quadra.
Ao invés de descer, como de habitual, escolhi por hoje, somente hoje, subir. Descer sempre foi o mais fácil, é fácil e atraente sucumbir às insanidades, paranóias, psicodramas e cigarros que queimam numa brasa quase apagada.
Talvez tenham razão todos os filósofos, sociólogos, cineastas, poetas aos quais dediquei minha vida e minha verdade de portas abertas, crendo estar pela primeira vez enxergando o mundo e suas peculiaridades com os olhos de quem vê. Apostei fichas no desespero, no mundo sinestésico, no prazer, no amor, na desilusão, [ah, desilusão! apostei tanto nas suas ilusões..!] no
escuro, como um mártir que luta contra a mentira. Senti pena dos desavisados, vangloriei os que julgava estarem salvos deste naufrágio lento e gradativo. Querendo me afogar... Querendo tanto me afogar!

Talvez o mundo realmente não valha o mundo..
Mas hoje, valeu os contados trocados do ônibus.

Thursday, January 11, 2007

Nightawks at the dinner

Não sei se existe isto de que falo,
mas deixa-me reparar um pouco
no teu modo ternamente animal
de confundir palavras e sentimentos,
num quase-silêncio desabrigado e informe.

Um corpo serve para muito pouco,
desde os caprichos da libido às infecções urinárias.
Coisas às vezes parecidas
que disfarçamos com vinho e com uns restos de astúcia.
Não me ouças, se não quiseres.
Ainda não se perdeu o lume das mãos redondas
com que te despes a um canto,
singularmente igual ao que de ti recordo
num outro Inverno distante.
Deixemo-nos ficar esta noite,
enquanto Tom Waits nos volta a falar
de um camião chamado Phantom 309 ou de outra coisa qualquer,
singularmente igual - um pouco mais triste, talvez.
Não é isso que importa.

Também cada um de nós terá um dia de se despistar
ao encontro de alguma certeza irrisória e no entanto mortal.
Que o vinho não acabe, entretanto,
e que as canções não pereçam nesta noite cativa do lume mas friamente corrupta.
Só nos teus lábios posso encontrar os teus lábios.
Eis uma parva verdade a que por vezes regresso,
mais importante decerto do que a sagess de Verlaine
ou do que aquele velho bar onde dantes,
pelo fim da tarde, cumpríamos o amor.
Deixa lá, no exacto sítio da morte,
essa teimosa paixão que não morre nem finge viver.
Tudo isto é inútil, embora o empadão estivesse bom
e eu já não saiba sequer quantos anos passaram
desde que um ao outro oferecemos o engano e a miséria de um rosto.

O vinho depressa acabou,
e é entre os teus seios que agora adormeço,
como se houvesse um lugar.
Daqui a algumas horas esperar-nos-á, crudelíssimo,
o terror tépido de mais um domingo absolutamente dispensável.
Só então saberemos o que desta noite há-de a memória roubar.
Talvez um perfume a doer-lhe feliz,
ou as roucas onomatopéias de uma certeza insegura- do lado mais esquivo da morte.

Mas bastam-me para já as mãos redondas gentis que fazem chover o teu nome sobre as ruas desertas do meu coração.



Manuel de Freitas, em Os Infernos Artificiais

Wednesday, January 10, 2007

Welcome back to myself.

a comida tinha gosto de alimento, então parei de comer.
andei pelos cômodos vazios e escrevi notas de rodapé em todos os livros que tinha, para confessar meus delírios aos loucos.
lembrei mais uma vez que havia esquecido como se conjuga alguns verbos defectivos.
ora, conjuguei-os como queria! meus perfeitos verbos defectivos.
pensei em me atrasar mais uma vez pra aula que eu tanto queria assistir; essas vontades repentinas de contrariar suas próprias vontades a troco de nada, ou de ninguém. ou ambos.
saí e fazia frio na sombra; tinha vontade de me agasalhar a cada piscar de olhos do sol, mas o sol não tem olhos - se os tivesse me veria pedindo calor. Pedia calor a cada olhar frio nos tortuosos labirintos de pessoas não geniais, pessoas que atravessavam minha alma sem meu consentimento, deixando um pedaço em cada esquina.
tentei construir algo dos pedaços, mas foi em vão. é sempre em vão.
e se por uma vez, uma única vez, simplesmente uma, não fosse em vão, talvez a comida já não tivesse gosto de alimento, talvez o sol me visse pedindo calor, ou ainda, talvez eu não precisasse me agasalhar da sombra dos olhares indiferentes desta cidade.